História de ex-escravo é incrível. Descendentes afirmam que Roque Florêncio viveu por volta de 130 anos e teve mais de 200 filhos biológic...
História de ex-escravo é incrível. Descendentes afirmam que Roque Florêncio viveu por volta de 130 anos e teve mais de 200 filhos biológicos. Os relatos e documentos sobre a vida do ex-escravo nascido em Sorocaba (SP) e criado em fazendas e vilarejos na região de São Carlos está sendo documentada por duas universidades.
Nascido na cidade de Sorocaba provavelmente no ano de 1828, quando as feiras de muares e escravos representavam muito para a economia local, Roque Florêncio foi comprado ainda criança por um fazendeiro de São Carlos (SP) que logo enxergou nele características para torná-lo um escravo reprodutor.
Com o corpo atlético e esguio, as canelas finas e muito alto – tinha mais de 2,18m de altura ainda adolescente – Roque ganhou o apelido de “Pata Seca” e passou a ser o responsável por garantir a reprodução das escravas na fazenda em que estava. Embora essa não fosse uma prática comum em todas as fazendas e senzalas existentes no Brasil, não era tão rara quanto alguns apontam. Os fazendeiros escravocratas recorriam a todo tipo de coisa para garantir seus lucros.
Os escravos eram obrigados a se reproduzir como forma de ampliar as propriedades dos seus “senhores”. Eram, portanto, tratados da mesma forma que os cavalos ou outros animais que o fazendeiro possuía.
Sendo vítima da violência da escravidão, mas obrigado a impor violência aos seus companheiros, Roque gerou mais de 200 filhos. Por sua vez, os filhos e netos de Pata Seca, nascidos na escravidão, foram essenciais para a expansão e sucesso econômico do ciclo do café em São Carlos e para a riqueza de gerações dos Condes dos Pinhais, os maiores exploradores do trabalho escravizado da região paulista.
Com o tempo, os descendentes de Pata Seca acabaram se fixando no pequeno vilarejo de Santa Eudóxia, hoje um distrito de São Carlos, e estima-se que 30% da população total de 2.600 habitantes da vila seja descendente direto de Roque Florêncio.
A história de Pata Seca espanta pelos números, foram 130 anos vividos, conforme o atestado de óbito datado de 1958 do ex-escravo, com mais de 200 filhos de acordo com os registros oficiais das antigas fazendas e a movimentação de venda dos escravos.
Pata Seca teria conseguido ganhar a confiança do fazendeiro por quem fora escravizado e assim que conseguiu a liberdade ganhou um grande pedaço de terra onde construiu casas e instalou parte de sua família – exatamente em Santa Eudóxia em um sítio que recebeu seu apelido, Pata Seca, como nome. E ainda assim continuou prestando serviços à família do antigo fazendeiro. Isso pode ter contribuído para parte da comunidade negra não ter levado adiante a história do negro que foi explorado como reprodutor sexual durante toda a vida.
Hoje a Universidade Federal de São Carlos e a Universidade Estadual Paulista conduzem um estudo para recuperar os documentos e a história de Roque Florêncio, seus filhos e netos, e da própria Santa Eudóxia.
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